Suicídios de policiais e a cultura do herói

Artigo escrito pelo Dr. Cássio Rebouças de Moraes e publicado no jornal A Tribuna em 04/08/2023

Recentemente, um triste episódio ganhou destaque na mídia: o suicídio de uma policial civil em Minas Gerais, motivado por assédio moral e sexual no ambiente de trabalho. Com a divulgação do caso, estatísticas estarrecedoras vieram à tona, revelando que os suicídios entre policiais, em alguns estados, chegam a ser três vezes maiores do que as mortes em serviço. Esse dado alarmante é um grito de alerta para a sociedade e para as autoridades responsáveis pela segurança pública.

Quem convive com policiais provavelmente conhece histórias de conhecidos que já tiraram suas próprias vidas. Esse fenômeno silencioso parece estar passando despercebido aos olhos do público em geral.

Uma constante nas queixas dos policiais é a falta de boas condições de trabalho, o que não significa que estes não gostem ou não se sintam satisfeitos com o exercício da atividade policial e sua importância para a sociedade. A imensa maioria dos policiais sente orgulho do que faz, porém enfrenta uma série de desafios diários que impactam sua saúde mental.

O trabalho policial é intrinsecamente estressante e carregado de pressão psicológica. Lidar com crimes, investigados, vítimas, violência e situações de risco constantemente exige um alto grau de resiliência emocional. Isto somado a sobrecarga de trabalho, longas jornadas, problemas estruturais, falta de reconhecimento, de apoio psicológico, casos de dependência química, desordens de estresse pós-traumático e talvez a vergonha de buscar ajuda, cria uma verdadeira uma bomba relógio.

Além disso, o ambiente de trabalho muitas vezes é marcado por uma cultura hierárquica, na qual abusos de poder e assédios podem ocorrer sem a devida responsabilização. Essas situações afetam diretamente o bem-estar emocional dos policiais, que se sentem desamparados e sem recursos para enfrentar esses problemas. Afinal, na realidade atual, pode um soldado denunciar um coronel ou um investigador denunciar um delegado e dormir tranquilo, sem receio de retaliações?

Mais suicídios que mortes em serviço. Esse dado não pode ser ignorado.

Eu, que sou filho de policiais (um militar, já falecido, e uma civil aposentada), neto, sobrinho, primo e estou na torcida para ser irmão de mais um, me pergunto: Diante deste alarmante cenário, o que se tem feito de concreto sobre isto? Para além das evidentes melhorias de condições de trabalho, apoio psicológico, canais de denúncia e campanhas de conscientização, penso que a “cultura do guerreiro”, do “herói”, também difundida em outras profissões é parte significativa do problema.

O herói trabalha de graça, por ideais, por emoção, se arrisca, não recebe ajuda do Estado, paga por seus equipamentos, não tem chefe, não respeita a lei e não exige direitos porque não precisa deles.

O policial, apesar da importantíssima função exercida, é um servidor, que, em contrapartida por seus serviços, recebe seu salário (assalariado) ou soldo (soldado), como trabalhador que é. É fundamental romper com esta cultura que romantiza o sacrifício individual em detrimento do cuidado com a saúde e o respeito aos direitos dos policiais.

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